A Guerra (1914 – 1918) – Pernambuco.com, 4 de maio de 2003

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Testemunho de civilização e barbárie

Livro reúne artigos de Júlio Mesquita (1862-1927) para o Estadão sobre a Primeira Guerra

Mário Hélio
ESPECIAL PARA O DIARIO

“Há também o estado de guerra com a Alemanha, mas já antes disso a dor fazia sofrer”. O desabafo do jovem poeta português Fernando Pessoa, escrito numa carta, de 14 de março de 1916, alude à guerra começada dois anos antes, a primeira a mostrar superlativamente que civilização e barbárie estão mais próximas do que julgava o eurocentrismo tão cioso de si na época. Uma interpretação muito especial desses fatos decisivos para a história da humanidade é A Guerra (1914-1918), de Júlio Mesquita, que será lançado, às 19h, nesta segunda-feira, na sede da União Brasileira de Escritores (rua Santana, Casa Forte), com a presença do bisneto do autor, Ruy Mesquita Filho.

Publicado no ano passado pela editora Terceiro Nome, em 920 páginas (quatro volumes de luxo, muito bem ilustrados), o livro reúne os artigos de análise da Primeira Guerra escritos por Júlio Mesquita,que foram publicados por mais de quatro anos todas as segundas-feiras no jornal O Estado de S. Paulo. Há também uma versão do livro em CD-Rom, que custa R$20,00. Os quatro volumes juntos saem por dez vezes esse preço.

Fernando Portela e Jorge Alfredo Vidigal Pontes trabalharam na seleção do material, todo recolhido das páginas do Estadão, e que conservam um tal vigor que é como se o leitor viajasse àquele tempo e pudesse não só olhar de modo frio os acontecimentos da guerra, mas comover-se e enojar-se com o conflito, como talvez já não o faça diante da cobertura quase asséptica e até cínica dos jornais nos conflitos recentes. O especialista em Primeira Guerra, Fortunato Pastore, analisa cada um dos anos da guerra no livro, Jorge Caldeira avalia a contribuição de Mesquita ao jornalismo brasileiro e Napoleão Sabóia estuda a evolução da fotografia (o livro é fartamente ilustrado com fotos, mapas e desenhos).

  A sensibilidade do autor faz com que o “o olhar distanciado” com que ele constrói a sua reflexão sobre uma guerra que acontecia tão distante do Brasil seja percebida com uma visão quase profética em vários momentos. Certas antecipações e agudezas de interpretação é que fizeram, recentemente, em mesa-redonda em Paris, antropólogos franceses julgarem estar diante de uma leitura original do conflito que definiu provavelmente os rumos do século XX, e com coisas a ensinar talvez aos próprios europeus que a protagonizaram.

1914 é ano-chave do século passado. Para o historiador Eric Hobsbawm, seria a verdadeira data do início do século XX. Mas o livro de Mesquita aponta para além da guerra que é o seu objeto, prenuncia a Segunda. Embora despretensiosos, os artigos abrangem uma grande variedade de temas diretamente relacionados com o seu assunto, como diplomacia, geografia e propaganda etc.

Ruy Mesquita Filho, que apresenta o livro, afirma que no Estadão o País pôde ler a verdadeira dimensão da agonia daquela guerra. No prefácio, Gilles Lapouge diz que o olhar de Mesquita era globalizante e vivo: “Mesquita pinta. Explica. Dá todos os elementos. Acumula informações. E dramatiza. Mas, ao mesmo tempo, é mais do que jornalista”.

Júlio Mesquita (1862-1927), que era advogado de formação, estreou no jornalismo no ano em que se abolia a escravidão no Brasil, no velho A Província de São Paulo. Tornou-se logo dono do jornal e mudou o nome para o atual O Estado de S. Paulo. Atuou também na política, havendo sido deputado estadual e federal, e senador.

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