Cadeias dominadas – Blog do Sakamoto, 24 de maio de 2014

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Fundação Casa segue lógica do sistema penitenciário

O antropólogo Fábio Mallart passou mais de cinco anos estudando o cotidiano da Fundação Casa, das relações internas de poder à administração dessas unidades. Com base nisso, afirma em seu livro Cadeias Dominadas (que será lançado, nesta terça (27), em São Paulo – veja no final deste post) que o sistema socioeducativo de internação, progressivamente, está se alinhando à dinâmica de funcionamento dos presídios paulistas. “Não é exagero afirmar que a redução da maioridade penal, de certa forma, já há algum tempo foi colocada em prática pelo Estado de São Paulo”, explica Fábio em artigo escrito para este blog. Vale a leitura:

Muralhas com arame farpado, portões de aço, grades por todos os lados, menções ao Primeiro Comando da Capital (PCC) cravadas pelas paredes, postos de vigilância, negociações envolvendo internos e diretores, torturas, rebeliões, drogas e celulares.

O cenário descrito poderia ser de qualquer cadeia do sistema prisional adulto, mas se refere à dinâmica cotidiana de unidades de internação da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), antiga Febem, de São Paulo.

Entre setembro de 2004 e novembro de 2009, passei boa parte de meus dias circulando por distintas unidades de internação de tal instituição. Durante esse período, ministrei atividades fotográficas aos adolescentes que, por terem cometido atos infracionais, cumpriam medida socioeducativa de internação nos complexos do Brás, Franco da Rocha, Vila Maria, Raposo Tavares e Tatuapé – este último desativado em 2007.

Durante as atividades ministradas, deparei-me com determinadas unidades de internação conhecidas entre adolescentes e funcionários como “cadeias dominadas”. Em tais espaços institucionais, pude etnografar um conjunto de normas de conduta que orienta a experiência cotidiana dos adolescentes. Regras que estipulam desde as vestimentas adequadas para um dia de visita, ou impedimentos relativos ao contato entre os adolescentes e os funcionários, até diferenciações entre os próprios jovens. Vale salientar que tais prescrições são semelhantes às que operam em instituições prisionais orientadas pelas políticas do Primeiro Comando da Capital, coletivo de criminosos que atua dentro e fora do sistema penitenciário paulista.

De fato, no cotidiano das “cadeias dominadas”, os adolescentes orientam as suas ações de acordo com as diretrizes do PCC. Em tais unidades há uma série de posições nas quais as lideranças dos adolescentes se distribuem: faxinas, pilotos, setores e torres. Termos que – vale notar – também operam no sistema prisional adulto e que designam as funções e as responsabilidades, mas também os procedimentos de conduta. Trata-se de espaços institucionais que se configuram como verdadeiros campos de batalha, nos quais se processam conflitos silenciosos, disputas violentas e tensões. Locais em que os ideais de “Paz, Justiça, Liberdade e Igualdade” que, segundo os jovens, constituem o lema do Primeiro Comando da Capital, fazem parte do léxico mobilizado pelos internos.

Tais reflexões, cravadas em algumas páginas de meu livro que será lançado no dia 27 de maio – fruto de pesquisa de mestrado pelo Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo – evidenciam a simetria existente entre tais unidades de internação da Fundação Casa e o sistema carcerário paulista.

A nomeação de Berenice Gianella como presidente da instituição, em junho de 2005, após ocupar os cargos de corregedora-geral do sistema penitenciário do Estado de São Paulo e secretária adjunta da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), bem como o fato de que, no mesmo período, funcionários do sistema carcerário assumem a direção de algumas unidades de internação, simbolizam o deslocamento da Fundação Casa em direção à dinâmica de funcionamento do sistema penitenciário.

É importante salientar que, em março de 2005, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, anuncia a transferência de mais de 700 adolescentes de diversas unidades de internação para uma penitenciária localizada no interior do estado. No mesmo mês, 240 internos do complexo de Franco da Rocha são transferidos para um presídio de segurança máxima em Taubaté. Diante de tais medidas – e de muitas outras adotadas ao longo dos últimos anos, todas elas marcadas por uma lógica punitiva-carcerária – não é exagero afirmar que a redução da maioridade penal, de certa forma, já há algum tempo foi colocada em prática pelo Estado de São Paulo.

De fato, nota-se que o sistema socioeducativo de internação, progressivamente, alinha-se à dinâmica de funcionamento dos presídios paulistas. Contudo, tal processo de simetrização não deve ser compreendido tendo-se em vista apenas as ações estatais. Se por um lado a dinâmica das “cadeias dominadas” reflete o crescimento de políticas governamentais eminentemente punitivas, por outro, aquilo que acontece dentro das muralhas institucionais está em sintonia com o que ocorre nos presídios e nas periferias urbanas, territórios nos quais também se constatam práticas e políticas do PCC. Nesse cenário, vê-se que as fronteiras entre o dentro e o fora estão cada vez mais borradas.

Debate e Lançamento do livro Cadeias Dominadas, de Fábio Mallart
Terça (27), às 19h, na Ação Educativa: Rua General Jardim, 660, Vila Buarque, São Paulo (SP). Debate com a mediação de Bruno Paes Manso jornalista e pós-doutorando do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Flávio Américo Frasseto, defensor público da Infância e Adolescência, e Vera da Silva Telles, professora do Departamento de Sociologia da USP.

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De que riem os boias-frias? – UNIMEP, 21 de maio de 2014

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Livro sobre boias-frias é lançado no Martha Watts, sexta-feira, 23

O livro De Que Riem os Boias-Frias? – Diários de Antropologia e Teatro, de John C. Dawsey, que atuou de 1989 a 1996 como professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Unimep, será lançado nesta sexta-feira, dia 23, às 19h30, no Centro Cultural Martha Watts. A obra foi produzida com base na vivência diária e do aprendizado do autor com os boias-frias, trazendo ao leitor uma análise sobre os trabalhadores, e histórias de solidariedade e de violência.

A publicação de 304 páginas integra a coleção Antropologia Hoje, da editora Terceiro Nome, e pode ser adquirida pelo valor de R$44 no site http://www.terceironome.com.br .

ANOTE – Lançamento do livro De Quem Riem os Boias-Frias? – Diários de Antropologia e Teatro, de John C. Dawsey, na sexta-feira, 23, a partir das 19h30, no Centro Cultural Martha Watts (rua Boa Morte, 1.257 – Centro, Piracicaba).

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Cadeias dominadas – CEBRAP, 21 de maio de 2014

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Fundação CASA é tema do livro do pesquisador do Cebrap Fábio Mallart

Na próxima terça-feira, 27/5, a partir das 19h, o pesquisador do Cebrap Fábio Mallart vai promover o lançamento do seu livro “Cadeias Dominadas”, que mostra como a Fundação CASA – a antiga FEBEM – segue a lógica do sistema prisional.

Em seu livro, Fábio Mallart também mostra que muitas unidades de internação são “dominadas” pelos adolescentes, que determinam todas as ações do cotidiano e instauram uma estrutura de funcionamento típica do PCC. Os adolescentes em conflito com a lei, com cargos definidos por eles mesmos, usam uma espécie de código de ética do PCC e até definem os locais onde os agentes de segurança devem fazer o monitoramento.

Serviço:
Livro: Cadeias Dominadas
Organizadores: Fábio Mallart
Lançamento: 27/5
Horário: 19 horas
Local: Ação Educativa (Rua General Jardim, 660 – Vila Buarque, São Paulo / SP)

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Cadeias dominadas – Informações e Notícias, 20 de maio de 2014

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Lançamento do livro Cadeias Dominadas

Na próxima terça-feira, 27 de maio, acontece o lançamento do livro Cadeias Dominadas – A Fundação CASA, suas dinâmicas e as trajetórias de jovens internos, de Fábio Mallart, supervisor socioeducativo do Sou da Paz.

O lançamento também conta com um debate sobre o tema.

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Cadeias dominadas – Agência Jovem de Notícias, 14 de maio de 2014

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Muralhas com arame farpado, portões de aço, menções ao Primeiro Comando da Capital (PCC) cravadas pelas paredes, grades por todos os lados e postos de vigilância. Poderia ser uma prisão, mas esse é o cenário das Unidades de Internação da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação CASA) , antiga Febem. Embora planejada para promover medidas socioeducativas às crianças e aos adolescentes que cometeram atos infracionais no Estado de São Paulo, uma série de medidas governamentais aplicadas se assemelham ao tratamento dispensado à população carcerária adulta.

Em seu livro, Fábio Mallart aborda a dinâmica de funcionamento das unidades de internação da Fundação CASA. Entre 2004 e 2009, Fábio ministrou oficinas de fotografia aos adolescentes que cumpriam medida socioeducativa de internação nos grandes complexos da instituição: Brás, Franco da Rocha, Raposo Tavares, Tatuapé e Vila Maria. Tendo como base tal experiência, o autor aborda o deslocamento institucional ao longo do tempo, mostrando como a dinâmica de funcionamento do sistema socioeducativo, progressivamente, se alinha à lógica de funcionamento do sistema prisional adulto. Tal simetria é simbolizada, entre outros traços, pela existência de determinadas unidades de internação conhecidas atualmente como cadeias dominadas, espaços institucionais nos quais os adolescentes orientam as suas ações de acordo com as políticas e princípios do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para além disso, Mallart se debruça sobre as transversalidades existentes entre as unidades de internação, as periferias urbanas e as unidades do sistema prisional adulto, territórios que, atualmente, encontram-se na mesma sintonia.

Debate e lançamento do livro Cadeias Dominadas, de Fábio Mallart, no dia 27 de maio às 19h na Ação Educativa em São Paulo (Rua General Jardim, 660, Vila Buarque)

Participantes do debate: Vera da Silva Telles, professora do departamento de sociologia da USP; Flávio Américo Frasseto, Defensor Publico da infância e da adolescência; Bruno Paes Manso (mediador), jornalista e pós-doutorando (NEV/USP).

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Zo’é – Sou Mais PE (Recife), 6 de maio de 2014

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Exposição no Recife revela cotidiano da tribo indígena isolada ‘Zo’é’

O Capibaribe Centro de Imagem (CCI) recebe, de 8 de maio a 2 de junho, a exposição “Zo’é”, do fotógrafo paraense Rogério Assis. A mostra traz imagens de duas visitas do autor à tribo indígena isolada da Amazônia que tem esse nome. Os registros foram separados por 20 anos – o primeiro contato dele com os índios foi em 1989, e o segundo em 2009 – e ocorridos em situações bem diversas. “A primeira aconteceu por acaso e foi o primeiro registro oficial da etnia”, conta Assis. A segunda já vislumbrava o livro, que é lançado com a exposição e também leva o nome da tribo, que significa “nós”, em uma língua derivada do tupi.

O fotógrafo conheceu o povo quando trabalhava para a Funai na região e a fundação recebeu um chamado urgente, porque uma gripe forte assolava a tribo, após contato com missionários. “Foram 20 óbitos em menos de duas semanas. A missão pediu socorro da Funai e saímos correndo. Eram 146 indígenas naquela época”, lembra. “Eu trabalhava numa produtora no Pará que tinha a Funai como cliente, mas nunca tinha trabalhado com tribos isoladas”.

O impacto do que o viu foi forte o suficiente para que, durante as poucas horas em que ficou na tribo, gastasse cuidadosamente os quatro filmes que tinha na bolsa e, 20 anos depois, voltasse com bem mais tempo e negativos. “Costumo brincar dizendo que é o índio como Cabral encontrou quando chegou aqui, no seu habitat natural, com muito pouca influência do homem branco”.

Entre os hábitos que mais impressionaram estão a relação com a natureza e a organização da sociedade. “Eles são nômades para preservar a terra, não saturá-la. Plantam, exploram e vão embora. Só voltam quando ela se recupera”, diz, para completar: “As relações são bastante complexas, do nosso ponto de vista: mulheres têm vários maridos e vice-versa”. Outra coisa que chamou bastante atenção do fotógrafo foi o fato de o coletivo estar sempre colocado como prioridade. “Ninguém se alimenta sozinho. O que se pesca não é para quem pescou, é para a comunidade. Mesmo aquele que andou três dias para caçar o porco leva o animal para a tribo, não come sozinho. As refeições são sempre feitas comunitariamente”, detalha.

Na volta à região, 20 anos depois, Rogério Assis passou 25 dias no total e registrou o dia-a-dia dos índios com um esforço enorme para ser minimamente notado. “Me misturei com eles para esquecerem da minha presença, tentava me inserir. Fotografei sem interferência nenhuma no cotidiano deles, o material é documental mesmo, interferência zero”, conta.

Em relação à visita anterior, ele notou diferenças positivas. “Melhoraram muito de saúde e continuam isolados. Tudo que foi inserido na cultura Zo’é pela Funai foi para facilitar, sem alterar as práticas”, diz, se referindo a enxada, faca, linha de nylon para pesca, lanterna para segurança e rádio de comunicação para falar entre eles. Dentro da terra indígena, são 14 aldeias da etnia, hoje com 260 pessoas no total.

Desde 2010, com o projeto do livro aprovado pela Lei Rouanet, Assis tentou captar dinheiro para a publicação. “Nenhuma empresa quis colaborar. Diziam que não podiam associar as marcas a índios, diziam que o índio é mal visto pelos clientes”, se impressiona. O fotógrafo se juntou então com a editora e, como se pode ver nas fotos que ilustram a matéria, tem mostrado que essas empresas estavam erradas. “Tem dado muito certo”, finaliza.

Serviço
Exposição Zo’é
Capibaribe Centro da Imagem – Rua da Aurora, 533 – Boa Vista
Lançamento: 8 de maio, às 19h30
Em cartaz até 2 de junho
Mais informações: (81) 3032-2500

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Zo’é – Continente Online (Recife/PE), 7 de maio de 2014

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Exposição ‘Zo’é’ em cartaz até 2 de junho

Acontece nesta quinta-feira (08 de maio), às 19h30, no Capibaribe Centro de Imagem (CCI), a abertura da exposição Zo’é, do fotógrafo paraense Rogério Assis. Em cartaz até o dia 2 de junho, a mostra é derivada do livro homônimo, que reúne imagens concebidas nas duas visitas que Assis fez a tribo indígena Zo’é, em 1989 e 2009.

O projeto é, sobretudo, uma forma de acompanhar as mudanças sofridas pela tribo ao longo dos últimos 20 anos. O primeiro ensaio fotográfico veio na época em que Rogério trabalhava na Funai e foi feito em poucas horas. O segundo, pensado para o livro, foi extremamente planejado e conta com o registro do cotidiano dos Zo’é durante um período de 25 dias.

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