O Capa-Branca – blog Jovem Literário, 4 de abril de 2016

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RESENHA CRÍTICA: O Capa-Branca – Walter Farias e Daniel Navarro Sonim

Recentemente estiveram em minha Universidade os autores Walter Farias​ e Daniel Navarro Sonim​ para a aula magna dos cursos de Psicologia e Enfermagem, os autores promoveram um debate com os alunos sobre a realidade que Walter enfrentou em sua trajetória desde funcionário a paciente do Juquery, um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil, conforme o debate ocorria o meu interesse pela história só aumentava, ao mesmo tempo em que meu assombro quanto a realidade que eles estavam me passando também povoava minha mente, resolvi então que teria de ler este livro e conhecer a fundo os detalhes desta história, portanto hoje lhes apresento a resenha do livro O Capa-Branca​!

O Capa-branca é uma biografia que narra em 1ª pessoa a história de Walter Farias e toda a sua trajetória desde funcionário a paciente do Juquery, um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil.
Walter Farias aos seus 19 anos concorre a uma das 800 vagas disponíveis para trabalhar como Atendente de Enfermagem no Hospital Psiquiátrico de Franca da Rocha através do concurso público, sua trajetória começa ao encontrar seu nome entre os 100 primeiros colocados, a partir dai passa pelo exame psicológico e médico, logo em seguida seu treinamento começa.
Logo de início se depara a uma realidade bem difícil para se lidar, cuidar de pacientes que são taxados de ‘loucos’ por terem alguns transtornos psíquicos ou muitas vezes por serem as ‘sobras’ da sociedade, ‘loucos’, drogados, alcoólatras e mendigos todos ali jogados para a ‘limpeza’ das ruas, todos amontoados em situações deploráveis, em meio a suas necessidades fisiológicas, nus, roupas em frangalhos, alheios ao que se passa lá fora.
Walter presencia toda essa situação e este meio em que pacientes eram submetidos, mas além desta realidade que já impacta ainda há os ‘tratamentos’ aos quais submetiam os pacientes, entre eles destacam-se o coma insulínico e o eletrochoque, a tudo isto Walter é inserido em seu treinamento e dai em diante a linha entre a loucura e a razão começa a ficar cada vez mais complicada, tênue e até mesmo artificial.
O Capa-Branca é um livro impactante, uma história real pincelada com tantas verdades que até então me eram alheias, um relato de um homem que batalhou contra um sistema em plena época da ditadura, vivenciou a ‘desumanidade’, acompanhou e foi também sujeitado a tratamentos absurdos.
Um relato inacreditável e detalhado de alguém que viveu a realidade do Juquery e com a ajuda do jornalista Daniel Navarro Sonim conseguiu trazer ao conhecimento de muitos leitores tudo o que enfrentou, vivenciou e presenciou, as batalhas e sua trajetória através deste livro para que muitos possam além de conhecer a história do nosso Capa-Branca Walter Farias, também possam ver através de seu relato e seu olhar uma realidade e perceber o quão importante, vital e necessário é o apoio e a luta pelo reforma psiquiátrica!
Conheça você também o desfecho dessa história surpreendente!
Leia aqui a resenha na íntegra
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Nas tramas do crack – Le Monde Diplomatique, março 2016

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NAS TRAMAS DO CRACK: ETNOGRAFIA DA ABJEÇÃO
Taniele Rui, Ed. Terceiro Nome

A abjeção, alteridade radical que não reconhece humanidade no outro, é central no livro de Taniele Rui. Sua pesquisa antropológica direciona o olhar para, no mínimo, três dimensões curiosas, que se entrecruzam para entender as tramas do crack: o chão, os cachimbos e os “noias”.

Sua observação dos caminhos percorridos chama atenção para as “coisas” relacionadas ao universo de consumo do crack. Restos de comida, insumos dos redutores de danos, pedaços de papel-alumínio, cachimbos… Tudo que aparentemente é sem importância demonstra o quebra-cabeça que monta a vida pulsante no encarado de maneira habitual apenas como exclusão.

A estratégia de produção de cachimbos proposta pelos redutores de danos leva às estratégias de autocuidado e à possibilidade de engajamento político, na gramática do direito a ter direitos. É por meio do olhar mais atento ao cachimbo que a antropóloga pode adentrar as miríades de intersecções de cuidados, repressões – muitas vezes contraditórias – e relações sociais em seu cenário de pesquisa.

Internamente ao grupo dos usuários de crack há a diferenciação entre os que utilizam lata e os que usam cachimbo. A lata é mais prejudicial ao usuário; sendo assim, o cachimbo demonstra o mínimo asseio do usuário. O prestígio dos cachimbos pessoais é tão elevado que os transformam em pessoas com nomes próprios. Já a corporalidade do noia o coloca numa condição de desumanização e o transforma em “coisa” e, portanto, define os contornos do que é entendido como humanidade.

Diante disso, essas questões suscitam tantas intervenções, envolvendo saúde, segurança pública, assistência social, pobreza, preconceitos, que se entrecruzam em complexas relações e colocam “o crack, seus usuários e seus espaços no centro da questão social brasileira contemporânea” (p.27). Dessa forma, esse é um dos temas acadêmicos e políticos mais importantes da atualidade e encontra no livro de Taniele Rui cuidadosa e original análise para compor o debate.

Aline Ramos Barbosa é Doutorando em Ciências Sociais na Unesp (PPGCS/FFC-Marília)

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