Um homem plural: sobre a “obra-vida” de Pierre Verger – REVISTA DE ANTROPOLOGIA

Pierre Verger dizia que virou etnógrafo “por acaso”: “se deixou guiar (…) pelo acaso e pelos encontros” (:19). Porém, todos aqueles que conhecem um pouco do funcionamento das religiões de matriz africana no Brasil sabem que, em sua lógica particular, não existe algo como o acaso. As decisões que definem o destino de alguém não são tomadas exclusivamente pela pessoa – ao menos pela pessoa como nós, ocidentais, a concebemos.
No candomblé, o destino (odu) é determinado também pela vontade do(s) orixá(s) que habita(m) a cabeça da pessoa; assim, não é de se estranhar que alguém venha a fazer o santo contra a vontade, ou mesmo que seja levado a assumir um cargo dentro de um terreiro sem assim o desejar.
A vida de Verger, como nos conta Jerome Souty em seu livro Pierre Fatumbi Verger: do olhar livre ao conhecimento iniciático, parece seguir à risca esse corolário. Recheada de contradições, ele parece ter vivido muitas vidas em uma: ao mesmo tempo em que cresceu em uma família burguesa, passou a vida com poucas posses; embora um francês cartesiano que lamentava não ter crença alguma, iniciou-se em três vertentes das religiões africanas; decidido a cometer suicídio aos quarenta anos, viveu quase cem. Continue lendo “Um homem plural: sobre a “obra-vida” de Pierre Verger – REVISTA DE ANTROPOLOGIA”